Regeneração natural da floresta nativa em áreas perturbadas para a produção de carvão vegetal no Distrito de Sanga de 2016 a 2021 (TCC, Rosário Bandesse)


Moçambique é um dos poucos países da África Austral que ainda apresenta uma considerável área de florestas nativas e outras formações lenhosas nativas, compostas principalmente por Miombo. Estima se a cobertura florestal do país em pouco mais de 40 milhões de hectares (Sitoe, Alda , & Sheila , 2012).

No intervalo entre os dois últimos Inventários Florestais Nacionais (IFNs), de 2007 e de 2017, a taxa anual de desmatamento no país aumentou de 0,58% (correspondente a 219.000 hectares) para 0,79% (267.000 hectares) (Chandamela, 2021).

Segundo Aquino et al. (2018), as potenciais causas do desmatamento e da degradação florestal são a pobreza, o alto crescimento populacional e a procura internacional pela madeira preciosa.

A floresta nativa em Moçambique é composta de vários tipos florestais. Em Miombo, Mopane e Mecrusse estão entre as áreas mais importantes para a exploração florestal. A conservação de áreas florestais nativas passa necessariamente pela compreensão do seu comportamento face às perturbações naturais e antropogénicas (Bila et al.,2018).

A sustentabilidade de qualquer povoamento de Miombo depende do potencial de regeneração, estrutura do povoamento e composição das espécies, mas o conhecimento sobre a dinâmica de regeneração das florestas de Miombo é bastante insuficiente na maioria dos casos (Njoghomi, et al., 2020).

A regeneração natural é uma ferramenta importante para a restauração florestal, principalmente para grandes áreas geográficas, onde os métodos de plantio e outros podem ser inviáveis devido aos elevados custos financeiros (Martins, et al., 2014).

Segundo Martins et al. (2014) estudos referentes as regenerações naturais permitem a realização de previsões sobre o comportamento e desenvolvimento futuro da floresta, pois fornece a relação e a quantidade de espécies que constituem seu estoque, bem como suas dimensões e distribuição na área.

Os processos pelos quais as florestas se regeneram estão ligados ao abandono pós cultivo, clareiras com queda de árvores, poda por meio de corte de indivíduos, entre outros, de modo que a regeneração natural é formada pelo banco de plântulas e indivíduos jovens (Estigarribia, 2017).

Assim sendo o presente estudo visa avaliar a regeneração natural de florestas nativas em áreas perturbadas para a produção de carvão vegetal no distrito de Sanga.

Problema e Justificativa

O abate das árvores para a produção do carvão é feito de forma indiscriminada ao longo da área identificada para o estabelecimento do forno, sem observância da altura óptima da árvore à superfície na qual se deve proceder ao corte, sem cuidados com as fontes de fogo durante o processo de combustão da biomassa, entre outros aspectos. 

Estas acções resultam em grandes clareiras, queimadas descontroladas e principalmente a redução da probabilidade de rebrotação dos cepos, entre outras situações que contribuem para o desmatamento e degradação florestal (Nhamtumbo et al.,2018).

Por via destes cenários surge a seguinte questão: “qual é o potencial de regeneração natural de florestas nativas em áreas perturbadas para prática de produção de carvão vegetal em Sanga”?

 

As florestas desempenham um papel importante para a manutenção da vida no nosso planeta, pois fornecem serviços ecossistémicos significativos de valor global, como o armazenamento e o sequestro do carbono, na regulação do abastecimento de água natural, mantendo o fluxo e a qualidade da água, também são reconhecidas por proteger a terra da erosão do solo, fornecem bens e serviços às comunidades locais, incluindo alimento, energia, medicamentos, materiais de construção e mobiliário (Sitoe, Guedes, & Nhantumbo, 2013).

Apesar de terem sido conduzidos estudos no Posto Administrativo de Unango referentes Composição florística e estrutura da vegetação da savana de Miombo por (Manjate & Massuque, 2019) e estudos sobre a degradação florestal por Eduardo (2016), onde concluíram a diminuição da diversidade e da cobertura vegetal tem-se dado provavelmente pela ação antrópica dos moradores no local do estudo.

O conhecimento referente a regeneração natural de florestas nativas ainda é considerado insuficiente, para uma melhor compreensão do padrão de regeneração. 

Mais pesquisas são necessárias sobre ela (Limon, Ara, & Kibria, 2021), por isso surge a necessidade de continuar com estudos dessa natureza no Posto Administrativo de Unango e em todo mundo.

Espera-se que os resultados desse estudo possam ser de grande importância na conservação da biodiversidade visto que a comunidade é considerada dependente dos recursos florestais surge a necessidade de saber que as florestas secundárias provenientes da regeneração natural providenciam vários serviços económicos, sociais e ambientais que antes eram providenciados pelas florestas primárias. Isso vai ajudar na elaboração de propostas de planos de reabilitação com vista a evitar a extinção da biodiversidade garantindo deste modo a conservação dos ecossistemas florestais no Posto Administrativo de Unango, ira também contribuir para o sucesso na recuperação de áreas perturbadas pela produção de carvão vegetal.


Resumo

O estudo foi realizado no posto administrativo de Unango e tem como objectivo geral avaliar a regeneração natural de florestas nativas em áreas perturbadas para a produção de carvão vegetal de 2016 a 2021. 

Foram alocadas 20 parcelas quadrados de 20x20 m de forma sistemática distantes 20 m uma da outra, Todos os indivíduos lenhosos e em regeneração com DAP <5cm foram medidos seus diâmetros ao nível do solo e alturas e DAP> = 5 cm foram medidos e identificado. Para indivíduos com DAP> = 5 cm as medições foram feitas a uma altura de 1,3 m a partir do nível do solo, considerado DAP. 

Árvores que apresentaram bifurcações abaixo de 1,3 m, o DAP de cada tronco foram medidas separadamente. Para estimar mudanças no uso e cobertura de terra foram elaborados mapas de temáticos de uso e cobertura de terra de 2016 a 2021 através dos sensores da serie Landsat 8 OLI, que possibilitou a estimativa das áreas ocupadas pelas classes de uso e cobertura de terra. 

A análise do estágio sucessinal foi feita com base na análise da estrutura diamétrica usando o quociente de Lioucurt, Por forma a analisar a estabilidade das classes e apoiar a interpretação da distribuição diamétrica, foi calculado o coeficiente de Lioucourt “q”. A interpretação deste índice é que em populações que apresentam distribuição balanceada. 

Os resultados mostram que no intervalo de 2016 a 2021 houve mudança no uso e cobertura de terra, a redução das áreas ocupadas por florestas densas e um aumento de áreas de florestas abertas, campos agrícolas e áreas de produção de carvão vegetal, e a classe de solos sem vegetação. Essa redução na cobertura florestal tem-se dado pela ação antrópica dos moradores no local do estudo. 

A família Fabaceae é a mais rica, as espécies sociologicamente importantes são as mais dominantes, seguida de outras famílias como Euphorbiaceae e Combretaceae. Em áreas perturbadas para produção de carvão vegetal, o maior número de indivíduos identificados pertence a regeneração não estabelecida. 

As espécies com maior potencial de regeneração natural são Brachystegia spiciformis, Uapaca kirkiana, Diplorhynchus condylocarpon, Strychnos spinosa, Proteia sp, Julbernardia globiflora, Parinari curatellifolia. O maior número de indivíduos pertence a primeira classe de diâmetro e o número de indivíduos vai diminuindo a medida que as classes diamétricas vão aumentando, obtendo-se assim uma curva do tipo “J” invertido. 

A estrutura diamétrica demostra que a floresta se escontra num estágio de clímax pois o q> 2, mas sofre de diversas perturbações, e se destaca o corte das árvores para produção de carvão vegetal. 

Muitas espécies encontradas são heliófitas pioneiras, fazem parte da primeira fase e segunda fase do estágio sucessional. O aumento de tempo de abandono das áreas influencia na distribuição diamétrica dos indivíduos, o número de indivíduos aumenta com o aumento de tempo de abandono quanto maior for o tempo de abandono maior será a densidade de espécies encontradas.


Palavras-chave:

Regeneração natural, Uso e cobertura de terra, Sucessão ecológica, Diversidade de espécies, Áreas perturbadas

Autor: Rosário Bandesse

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