A extensão global das pastagens no mundo varia devido a diferenças na caracterização da cobertura do solo. Estima-se que as áreas de pastagem ocupam em cerca de 41 a 56 milhões de km2, ou 31% a 43% da superfície da Terra. A África Sub-Saariana possui cerca de 14,5 milhões de km2 de áreas de pastagens da qual, Moçambique possui uma extensão total de superfície de 788 938 km2 dos quais 643 632 km2 são pastagens naturais (White et al., 2000).
Em Moçambique, as pastagens naturais são consideradas como um tipo de vegetação onde predominam as gramíneas (Poaceae), leguminosas (Fabaceae), ciperáceas (Cyperaceae) e plantas herbáceas de outras famílias (Araldi, 2003; Abate, 2008). As gramíneas e leguminosas compõem a maior parte da forragem que serve de alimento para os herbívoros domésticos e bravios (Abate, 2008).
Segundo World Bank (2006) e MASA (2015), a atividade de pastoreio no país tem contribuído para a subsistência de pequenos agricultores e famílias rurais por meio do fornecimento da força de tração animal, estrume, vendas e as demais funções socioeconômicas. Em 2015 registou-se um crescimento significativo dos efetivos e estimou-se a existência de cerca de 1 795 940 bovinos de corte, 2 304 vacas leiteiras e 5 328 420 pequenos ruminantes.
A Reserva Nacional de Pomene (RNP) foi estabelecida através do Diploma Legislativo nº 109/72, de 16 de Novembro, originalmente como Reserva Parcial de Caça do Pomene, alargando as áreas de proteção da natureza, no então designado distrito de Massinga, de forma a envolver nelas zonas oferecendo a maior gama de características ecológicas possíveis (Matusse et al., 2016).
A RNP usufrui de ecossistemas considerados sensíveis e importantes para a manutenção das populações de fauna bravia e que merecem atenção particular, nomeadamente, as florestas de miombo, a pradaria/savana arbustiva e a pradaria de inundação que no total ocupam cerca de 77.8% da superfície da Reserva. Devido a fraca presença de espécies de fauna nestes ecossistemas, parte das comunidades residentes no interior da Reserva tem usado as áreas para construção de residências, prática de agricultura, exploração de recursos florestais madeireiros e não-madeireiros e pastoreio de gado (Matusse et al., 2016).
A ecologia das pastagens é aplicada ao maneio dos componentes do ecossistema biótico (organismos, funções), abióticos (solo, clima, topografia) e do complexo planta-animal; estas componentes são dinâmicas e o seu conhecimento é essencial para o maneio do ecossistema (Haferkamp, 1988; Holechek et al., 2001; Laughlin & Abella, 2007).
Na RNP a produção pecuária é praticada em pequena escala, concentrando-se em aves, cabritos e porcos. Alguns agregados familiares possuem gado bovino, maioritariamente na região Sul da Reserva, usando nesta mesma região as áreas comunitárias de pastagem e áreas próximas às lagoas. Dados do SDAE indicam a existência de uma área de 100 ha para pastagem. A pecuária desenvolvida pelos agregados familiares do interior e zonas circunvizinhas da RNP, é maioritariamente direcionada para a subsistência e composição da dieta alimentar familiar (Matusse et al., 2016).
Neste contexto, o presente estudo objetiva-se na avaliação da condição ecológica de pastos na Reserva Nacional de Pomene no distrito de Massinga na província de Inhambane, que através deste, poderá proporcionar mais conhecimentos sobre a ecologia das pastagens na RNP que poderão a posterior contribuir de forma significativa na criação de estratégias de gestão sustentável das áreas de pastagem.
Problema e Justificativa
Segundo ANAC (2017), as áreas de conservação representam 25% dos cerca de 18,57 milhões de hectares cobertos por florestas em todo o país. Todas incluem assentamentos humanos dentro ou em redor dos seus limites e, como consequência, anualmente são sujeitas às queimadas descontroladas, comprometendo desta forma os seus objetivos (Ribeiro et al., 2007).
A necessidade de praticar queimadas para obtenção de áreas para construção de residências, prática de agricultura, exploração de recursos florestais madeireiros e não madeireiros e pastoreio de gado na Reserva Nacional de Pomene, tem contribuído para o empobrecimento dos solos, facilitação de transmissão de patologias entre espécies domésticas e de fauna nativa, e para degradação de habitats (Matusse et al., 2016).
Apesar de já existirem estudos realizados sobre a condição ecológica das áreas de pastagem, persistem ainda lacunas no conhecimento a fim de que haja consciencialização da importância de gestão e conservação das pastagens e recursos naturais que a RNP dispõe assim como sobre o papel que a comunidade local deverá desempenhar na conservação das pastagens e dos recursos naturais. (Macandza, et al. 2015).
Segundo Matusse et al. (2016), os efetivos da maioria das espécies faunísticas na Reserva de Pomene são bastante reduzidos com tendência a piorar, o que dita uma atenção especial na sua proteção. As principais causas estão associadas ao reduzido tamanho da Reserva, a reduzida capacidade de carga pela natureza dos solos e progressiva invasão de habitações, áreas agrícolas e de pastoreio do gado e ocorrência de queimadas descontroladas.
Diante do exposto, verifica-se o quão importante é a realização do estudo das condições ecológicas de pastos na Reserva Nacional de Pomene, podendo neste caso transmitir conhecimentos que possam ser usados na gestão dos pastos, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e preservação da biodiversidade nas áreas de pastagem na Reserva Nacional de Pomene.
Resumo
A condição ecológica de pastos nas áreas de conservação em Moçambique é um aspecto crucial para preservação da biodiversidade e para gestão sustentável dos recursos naturais. Porém, vários estudos realizados demostram a prevalência de lacunas do conhecimento sobre o efeito da condição ecológica de pastos para os animais herbívoros. O estudo foi realizado nas regiões do Parque Nacional de Pomene com objetivo de avaliar a condição ecológica nos diferentes tipos de formação vegetal por meio de variáveis de habitats como a composição botânica, biomassa graminal e susceptibilidade de ocorrência de erosão.
Para o levantamento de dados foram estratificadas as áreas segundo o tipo de formação vegetal onde, para o levantamento das variáveis do habitat (composição botânica, biomassa graminal, distância ao tufo e condição ecológica do pasto) usou-se o método step point em transetos contíguos de 100m estabelecidos com orientação ao Norte e a Condição ecológica foi usada o Método de Indice Ecológico (MIE). Foram obtidos um total de onze espécies distribuídas em quatro famílias Poaceae, Cyperaceae, Restionaceae e Capins em que a Poaceae registrou maior riqueza de espécies com um total oito (8) espécies.
A vegetação do Miombo denso é possui maior riqueza de espécies com oito (8) num total de onze (11) em relação as outras, e a Pradaria Arbustiva possui maior biomassa graminal com 1814,96 Kg/há (36,4%) seguida pelo Miombo Aberto com 1394,51 Kg/ha (27,9%), por terceiro a Vegetação das Dunas com 962,67 Kg/ha (19,3%) e por último o Miombo Denso com 819,45 Kg/ha (16,4%). Com ICE igual a 37,08% e 40,63% as pastagens na Pradaria Arbustiva e Vegetação das Dunas são de condição moderada ao passo que o Miombo denso e aberto são de condição excelente com índices iguais a 70, 91% e 61,25% respetivamente.
Em relação a susceptibilidade de ocorrência de erosão, as áreas de Pradaria Arbustiva e Miombo aberto possuem médio risco com uma média de 7,10cm e 8,46cm respetivamente enquanto que a Vegetação das Dunas com uma média de 15,98cm e Miombo denso com 13,51cm apresentam alto risco de ocorrência de erosão. Em torno destas especificações no presente estudo, é importante referir que a RNP apresenta alto risco de ocorrência de erosão do solo porém, porém a mesma apresenta condições moderadas de pastagem e possui disponibilidade de pastos para alimentação dos animais herbívoros.
Palavras-chave:
Condição ecológica, Áreas de Conservação, Capacidade de carga.
Autor: Filipe Bata
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