Nos países em desenvolvimento, os combustíveis lenhosos (lenha e carvão vegetal) constituem a principal fonte de energia doméstica para a confecção de alimentos. Estima-se que estes combustíveis sejam utilizados por cerca de 2 bilhões de habitantes destes países, onde a madeira e a mais importante fonte de energia, e, em muitos casos e a única disponível. Mais de 80% da madeira consumida no terceiro mundo e utilizada como lenha (Tuzine, 2005).
Moçambique é coberto por cerca de 54,8 milhões de hectares de florestas e outras formações lenhosas (70% do país), dos quais 40.1 milhões de hectares (51%) são áreas cobertas por florestas e 14.7 milhões (19%) por outras formações lenhosas incluindo arbustos, matagais e florestas com agricultura itinerante, e ainda sustenta que o país produz electricidade e gás natural, estas fontes de energia não são acessíveis a todos os lugares do país. A lenha e o carvão vegetal são a principal fonte de energia para a maior parte da população moçambicana, com maior incidência na população rural (Sitoe, 2013).
Sitoe (2013), afirma que o combustível lenhoso tem sido utilizado por famílias rurais e urbanas, onde as necessidades estão cada vez mais crescentes do seu uso, acelera o desmatamento, alimentando deste modo as maiores porções do solo descoberto o que cria graves problemas de erosão, o baixo nível socioeconómico no meio rural dificulta as possibilidades de disseminação de fontes energéticas alternativas dos recursos florestais.
Na Reserva Nacional de Pomene, é predominante a vegetação de Miombo (denso e aberto) com uma extensão actual de cerca de 1.937 hectares (cerca de 38% da reserva), ocorrem extensas áreas em regeneração (floresta secundária) em áreas que foram desbravadas para agricultura de subsistência. O miombo denso (cerca de 50% de cobertura de copa) possui uma camada graminal pouco desenvolvida (biomassa média de 756 kg/ha) e o miombo aberto (cerca de 20% de cobertura), com árvores mais dispersas, possui uma camada graminal mais abundante (2550 kg/ha). O graminal cobre cerca de 30% do solo (ANAC & MITADER, 2016).
O presente trabalho tem como objectivo de analisar os aspectos socioeconómicos do consumo do combustível lenhoso destinado a fins domésticos, visando a redução do desmatamento o que tem causado grandes impactos negativos.
Problema e Justificativa
Estimativas indicam que cerca de 80% de Moçambicanos dependem de lenha e carvão para satisfazer as suas necessidades energéticas (Marzoli 2007). Acrescenta que a lenha é tida como um dos recursos muito importante para o Homem, as aplicações deste recurso pode-se destacar o seu uso como fonte de energia para grande parte da população mundial, principalmente para as zonas rurais, pois de acordo com o Ministério da Agricultura et al. (2009), os recursos florestais servem de fonte de subsistência para cerca de 90% dos 1,2 biliões de pessoas vivendo em extrema pobreza, onde têm nas florestas as suas fontes de combustível, alimentos, medicamentos e abrigo. Adicionalmente Nhancale (2008), sustenta que as outras fontes alternativas ao combustível lenhoso sendo, o gás e a electricidade, na zona urbana estão confinados aos agregados de classe média e alta.
A procura pelo combustível lenhoso representa uma ameaça à sustentabilidade ambiental e à conservação da biodiversidade. No entanto, há uma falta de compreensão sobre como as práticas de consumo doméstico de combustível lenhoso influenciam nas áreas protegidas. Além disso, a variação nos níveis de consumo de combustível lenhoso nas comunidades locais ainda não foi adequadamente estudada, o que impede o desenvolvimento de estratégias eficazes para mitigar os impactos negativos do consumo e promover a sustentabilidade na RNP.
Perante o exposto coloca-se a seguinte questão de pesquisa: Qual é a média diária de consumo doméstico de combustível lenhoso e quais são os factores socioeconómicos que influenciam neste consumo na Reserva Nacional de Pomene?
A presente pesquisa é motivada pela observação do uso excessivo de combustível lenhoso e pela carência de informações sobre seu consumo doméstico por agregados familiares residentes dentro e fora da Reserva Nacional de Pomene. Este estudo busca entender as quantidades de consumo de combustível lenhoso em relação ao rendimento dos agregados familiares, o que permitirá uma análise mais aprofundada das dinâmicas socioeconómicas que afectam essa prática. Ao fornecer dados relevantes, a pesquisa não apenas contribuirá para o entendimento das necessidades e comportamentos das comunidades locais, mas também facilitará intervenções eficazes por parte das entidades responsáveis.
Resumo
Este trabalho teve como objectivo analisar os aspectos socioeconómicos do consumo doméstico de combustível lenhoso na Reserva Nacional de Pomene, localizada no distrito de Massinga, província de Inhambane. Utilizou-se uma amostragem não probabilística por conveniência. A colecta de dados foi realizada por meio de um inquérito, entrevistas semi-estruturadas e observação direta, permitindo uma análise detalhada do consumo de lenha e das condições socioeconómicas dos residentes nas duas comunidades estudadas, a venda de lenha contribui significativamente para a renda familiar, que é usada para sustentar as famílias. A receita gerada foi calculada com base na renda mensal de cada agregado familiar, considerando o preço de venda e a quantidade de produtos comercializados.
O consumo de lenha foi medido directamente, pesando a lenha utilizada pelas famílias antes e após o consumo foi calculada para estimar o consumo total de combustível lenhoso. O teste t foi empregado para comparar o consumo de lenha entre duas comunidades independentes, com a formulação das hipóteses nula (sem diferenças significativas) e alternativa (com diferenças significativas). O valor de t calculado foi comparado com os valores críticos para verificar a significância das diferenças, fornecendo informações sobre a dinâmica socioeconómica das comunidades. Os dados foram analisados utilizando pacotes estatísticos do Excel 2016.
Os resultados da caracterização social apresentaram maior número de mulheres em relação aos homens com (51%). Quanto a nível de escolaridade 38% são classificados como não escolarizados, e 47% possuem educação primária. Maior parte da comunidade vive em casas de palhotas representado por 33%, a actividade agrícola constitui a principal fonte de rendimento (55%), em Muchungo, a receita média mensal é de 4800 MZN, enquanto em Pomene, ligeiramente menor, com uma média de 3825 MZN. A lenha é o combustível mas usado representando 100%, o principal uso de combustível lenhoso indica que (95%) destina-se ao uso doméstico, e também quantos aos factores que influenciam 43% destacou da disponibilidade do recurso, seguida com 36 de baixo custo, quanto ao consumo diário é predominantemente 100% das ocorrências registadas. Verificou-se um consumo médio diário de 12, 58 kg, e mensal de 377, 4 kg na comunidade de Pomene e um consumo médio diário de 12,178 kg, e um consumo mensal de 364,34 kg na comunidade de Muchungo.
Durante o estudo foi possível notar que estes níveis de consumo estão ligados a disponibilidade local da lenha, falta de fontes alternativas, número de refeições diárias. Mulheres são geralmente as chefes de família, e a maioria tem baixa escolaridade. A lenha é a principal fonte de energia nas comunidades estudadas, com um alto consumo diário e mensal. A falta de controlo sobre a quantidade de lenha utilizada é significativa. Além disso, há diferenças estatisticamente significativas no consumo de lenha entre as comunidades de Pomene e Muchungo.
Palavras-chave:
Agregado familiar; Combustível lenhoso; Consumo Doméstico.
Autor: Thoide João
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