A cobertura florestal a nível Mundial esta a reduzir, estimativas indicam que cerca de 129 milhões de hectares perdem-se anualmente, o que corresponde a cerca de 3,1% (período de 1990 a 2015), actualmente a área florestal conta com uma extensão de pouco menos de 4 milhões de hectares (FAO, 2016).
Na África Austral estima-se que mais de 75 milhões de pessoas que vivem na zona ruraldependem das florestas tropical para a sua subsistência e mais de 25 milhões de habitantes da zona urbana e periurbana dependem da lenha e do carvão vegetal como fonte de energia, para satisfazer as suas necessidades (Dewees et al., 2010).
Moçambique é um dos poucos países na região da África Austral que possui uma área considerável de floresta nativa (Marzoli, 2007; JICA, 2018), e cerca de70% da sua população vive nas zonas rurais (INE, 2018), onde os recursos florestais contribuem substancialmente para a economia dessas famílias (JICA, 2018).
As necessidades crescidas do ser humano, relacionadas com a expansão urbana, actividade agrícola, caça, pesca, comércio, entre outras actividades, associadas ao crescimento populacional, contribuem substancialmente na degradação dos ecossistemas florestais em particular as Áreas de Conservação (Nipanga, 2020).
No entanto, de acordo com a mesma fonte, devido a intensa exploração dos recursos florestais, a maior parte das Áreas Protegidas em Moçambique estão a enfrentar enormes problemas, causados pelas práticas agrícolas impróprias que contribuem para o aumento substancial do desmatamento, facto que constitui desafio dos gestores florestais, na procura de solução para minimizar e utilização racional dos recursos florestas.
Magalhães (2018) afirma que de 2007 a 2018, verificou-se um decréscimo de 21% da área florestal total e 36% da área florestal produtiva, sendo as principais causas relacionadas com a pressão humana através da agricultura itinerante, a exploração madeireira, produção de carvão, corte de lenha e as queimadas descontroladas.
Mecuburi é um dos poucos distritos da província de Nampula ao norte de Moçambique, que possui uma das maiores Reservas Florestais do País que alberga considerável número de espécies florestais e faunísticas, e não só, como também, no seu interior encontram-se assentamentos humanos, que exercem diferentes actividades dentro da Reserva, facto que tem contribuídona degradação dos diferentes níveis ecossistemicos (Augusto, 2019).
Entretanto, as áreas protegidas são primordiais para a conservação da diversidade biológica. Por si só, não são auto-suficientes para alcançar os objectivos de conservação da biodiversidade, e devem complementar-se com a adopção de medidas eficazes de conservação (Pinto et al. 2002).
Souza et al. (2001) sustentam que a actividade exercida pelo Homem tem comprometido a sustentabilidade dos ecossistemas florestais, por causar impactos negativos que contribuem de forma significativa para a perda de espécies florestais e faunísticas, destruição de habitats, fragmentos de paisagem, exposições do solo a intempéries, poluição da água, dentre outros.
Portanto, a importância da participação das comunidades na gestão de recursos naturais foi destacada na Agenda 21, ao preconizar a integração entre o ambiente e o desenvolvimento nos planos políticos, de planeamento e de gestão, recomendando sobretudo, a promoção da participação do público em todas as esferas da vida, de forma a garantir um desenvolvimento sustentável (Nipanga, 2020 citando Agenda 21, 1999).
Nesse contexto, os estudos sobre a necessidade de se avaliar o efeito das actividades antrópicas no ecossistema do miombo florestal na Reserva de Mecuburi reveste de alta importância, pois oferece subsídios para compreensão dos problemas da relação entre os gestores dos recursos florestais e as comunidades, em particular o papel que as comunidades desempenham sobre o uso dos recursos florestais.
Pois, existe a convicção de que é necessário identificar os obstáculos ao nível local e criar condições para removê-los, para que as comunidades locais se possam tornar agentes, na exploração sustentável e conservação dos serviços ecossistémicos.
Problema de estudo e Justificativa
Desde os tempos primordiais que as Áreas de conservação, em particular a Reserva Florestal de Mecuburi têm sido alvo de inúmeras actividades de origem antrópica que, de certa forma, comprometem significativamente aintegridade ecológica dos ecossistemas florestais (Mananze et al., 2011). Devido a inúmeras actividades de origem antrópica praticadas, dentre as quais destacam-se, agriculturaitinerante, exploração florestal, extracção de material de construção e combustível vegetal (Sitoe et al., 2012).
De acordo com MAE (2005), a população residente no interior da Reserva Florestal de Mecuburi depende maioritariamente dos recursos provenientes das florestas para a satisfação das suas necessidades no seu dia-a-dia. Portanto, com o aumento da população, haverá maior pressão sobre os recursos florestais, levando a intensificação das actividades e a realização de forma desregrada, conduzindo deste modo, aceleração a degradação dos ecossistemas florestais.
No entanto, a expansão das actividades antrópicas bem como à busca de meios de subsistência e desenvolvimento em áreas protegidas tem gerado ao longo dos últimos anos sérios problemas de gestão e conservação, cenário que se verificano interior da Reserva Florestal de Mecuburi (Jaime, 2015).
Portanto, nos últimos anos registou-se invasão da Reserva por parte das comunidades locais e caçadores furtivos, colocando sobre pressão os recursos existentes, contribuindo de certa forma negativa nos serviços ecossistémicos da Reserva, originando conflitos de terra e dificuldades no cumprimento dos objectivos traçados na criação da Reserva.
Diante do exposto, surge a necessidade de se fazer uma avaliação dos efeitos das actividades antrópica sobre a cobertura florestal na Reserva de Mecuburi, com vista a gerar subsídios na planificação da gestão dos recursos da reserva.
Resumo
A presente pesquisa foi desenvolvida na Reserva Florestal de Mecuburi na Província de Nampula, com o propósito de avaliar os efeitos das actividades antrópicas sobre o ecossistema florestal. Para a recolha de dados foram identificadas locais com maior registo de actividades antrópicas na Reserva.
Foram aplicadas as técnicas de entrevistas semi-estruturadas e as observações directas, a selecção dos entrevistados foi com base na amostragem não probabilística do tipo bola de neve. Para o efeito, foram entrevistados membros dos agregados familiares com tempo de residência superior a 9 anos na Reserva, com idade superior ou igual a 18 anos, Líderes Comunitários, Fiscais da Reserva, Oficial de Desenvolvimento Comunitário da Reserva e ao Administrador da Reserva, num total de 170 indivíduos, distribuídos nas localidades de Mualua, Nanrele, Matutune e Natala.
Os dados foram processados a partir do pacote estatístico SPSS versão 21.0 e foram analisados usando as coincidências de padrões. Os resultados mostraram que a maior parte dos entrevistados 58% apontou para a agricultura como sendo a principal actividade praticada, seguida de caça (16%), pecuária (15%) e 11% apontou para a produção de carvão vegetal.
Sobre o efeito da mudança de cobertura florestal, 39% apontam para baixa fertilidade do solo, seguido de 25%, 19% e 17%, que apontam para a erosão, perda de áreas de pastagens e inudações respectivamente, como sendo os principais problemas ambientais.
Os métodos usados pelos gestores com vista a mitigar os problemas ambientais, constatou-se que a maior parte dos entrevistados, cerca de 38% indicam a existência de programas de Sensibilização sobre agricultura de conservação, cerca de 30% dos entrevistados indicam a existência de programas ligados a capacitação dos membros sobre a gestão dos recursos, 18% dos entrevistados afirmou existirem programas ligados a educação ambiental e apenas 14% afirmou a existência de programa ligado a apicultura.
Como forma de conservar os recursos florestais as comunidade locais utilizam plantas medicinais (37%), produzem mel (30%), extraem fibra de corda (18%) e cogumelo (15%).
Reserva; Actividades Antrópicas; Recursos Florestais; Problemas ambientais.
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