Introdução
Actualmente, no mundo, as áreas florestais cobrem um total de 4.06 bilhões de hectares, o que corresponde a 31 % da área total do planeta, sendo a maior parte coberta ou dominada por florestas tropicais e as perdas das áreas florestais têm vindo a aumentar consideravelmente a nível mundial entre os períodos de 1990 a 2020 (FAO, 2020).
Moçambique é um país com uma extensão de florestas estimada em cerca de 34 milhões de hectares, representando cerca de 41% do território moçambicano. No entanto, considerado como um dos poucos países da África Austral que ainda detém uma considerável área de florestas nativas e outras formações lenhosas, compostas principalmente por Miombo, Mecrusse e Mopane (MITADER, 2018).
A floresta tropical é um dos ambientes naturais caracterizados por uma grande diversidade de espécies adultas e outras plantas, sendo que a sua composição e estrutura são determinadas principalmente, pelos factores climáticos, edáficos, estado sucessional da vegetação e a história natural de cada sítio (LAMPRECHT, 1990). Além disso, florestas tropicais em regeneração constituem fontes essenciais de madeira e produtos não madeireiros que sustentam milhões de pessoas que vivem da floresta (CHAZDON, 2012).
A regeneração natural é a interacção de processos naturais no restabelecimento do ecossistema florestal, sendo parte do ciclo de crescimento da floresta e refere-se às fases iniciais de seu estabelecimento e desenvolvimento. Todavia, desempenha como função a sobrevivência, desenvolvimento e manutenção do ecossistema florestal, pois, é o conjunto de indivíduos que serão recrutados para representar a estrutura fisionómica da floresta futura (GAMA et al. 2002).
Para Gandini (2006), estudos sobre a regeneração natural e a fitossociologia de indivíduos arbóreas fornecem dados sobre a dinâmica do processo de sucessão natural, permitindo com que seja feita várias interferências do processo de sucessão, assim como a adoção de técnicas de maneio para a conservação da biodiversidade ou recuperação da floresta exploradas.
O entendimento da dinâmica de clareiras em florestas tropicais é de extrema importância na restauração florestal, no maneio sustentável e na conservação de remanescentes florestais (HOFIÇO et al., 2019). Neste sentido, a regeneração é considerada a base do equilíbrio e da demografia das populações vegetais, porque ela garante a renovação dos indivíduos e a permanência das espécies no ecossistema (PUIG, 2008). Segundo o mesmo autor um dos factores que desempenha papel importante para as regenerações são as clareiras que sucedem a uma perturbação natural ou antrópica.
Contudo, a regeneração natural das espécies arbóreas da floresta de Miombo, pode ser feita através de rebrota das toco, rebrota de raízes e de banco de semente (no solo) ou banco de plântulas, no estrato herbáceo (LUOGA et al., 2004). A maioria das árvores regenera através da rebrota de raízes e do banco de plântulas (RIBEIRO et al., 2002).
Em ecossistemas florestais o conhecimento sobre alguns aspectos ecológicos, como as síndromes de dispersão de propágulos, a distribuição espacial dos indivíduos e a partição do perfil vertical da floresta pelas espécies, é fundamental para a tomada de decisões em planos de conservação e maneio (NEGRINI et al., 2012).
Neste contexto o conhecimento da composição e estrutura da regeneração natural é importante para a compreensão da dinâmica da comunidade vegetal, para a ecologia das espécies e para fornecer subsídios sobre a direcção que o ecossistema está caminhando em relação à sucessão ecológica, bem como para determinar a técnicas de restauração florestal mais adequada para áreas com usos do solo semelhantes (ÁVILA et al., 2016).
O estudo da regeneração natural possibilita a melhor compreensão da autoecologia e sinecologia das espécies ao longo do processo de sucessão em que estão inseridas e podem indicar possíveis consequências de impactos antrópicos realizados em florestas, como alterações nos padrões de riqueza e consequentes efeitos na equitatividade e dominância na comunidade vegetal (MAZON et al., 2019).
Problema e Justificativa
A floresta do Miombo de Moçambique é uma das mais extensas da África Austral, cobrindo uma área que corresponde cerca de 70% do território nacional e actualmente, regista-se uma taxa anual de desmatamento florestal de 0,79%, o equivalente a 219 mil hectares, estando entre as mais altas da África (MARZOLI, 2007; MITADER, 2018).
Adicionalmente, as florestas em Moçambique têm sofrido impactos significativos devido a uma combinação de diversos factores dentre os quais pode se destacar, o corte ilegal e extracção selectiva de madeira, a exploração de espécies para produção de energia (lenha e carvão), a prática de agricultura itinerante, a ocorrência de fogo frequente e as mudanças climáticas (MOURANA et al., 2007; RIBEIRO et al., 2017).
De acordo com Mackenzie (2006), a exploração florestal em Moçambique está chegando a um ponto em que a colecta supera a capacidade de regeneração natural de algumas espécies, como consequência da demanda verificada nos últimos tempos. Na província da Zambézia em particular, tem-se verificado o aumento da demanda de recursos madeireiros, aonde vêm sendo exaustivamente explorada para diversas finalidades, incluindo comerciais, sem que haja qualquer preocupação com a sua preservação e sustentabilidade dos recursos naturais (PEREIRA, 2006).
O estudo da regeneração natural permite a realização de previsões sobre o comportamento e desenvolvimento futuro de uma floresta, pois fornece a relação e a quantidade de espécies que constituem seu estoque, distribuição na área e suas dimensões (CARVALHO, 1982; SANTOS et al., 2018). Assim, de acordo com Jardim (2015), a análise da regeneração natural é necessária e importante para determinar se esse processo é capaz de garantir que as espécies exploradas irão repor o material colhido, pois o conceito de sustentabilidade está baseado na capacidade da floresta se regenerar.
Segundo Higuchi et al., (2011), a análise da distribuição espacial de indivíduos arbóreos é um instrumento importante para o entendimento da ecologia das populações e de comunidades, podendo subsidiar a conservação das espécies e seu maneio sustentável.
Dessa forma, surgi a necessidade de um estudo sobre o comportamento da regeneração natural e a distribuição espacial das espécies arbóreas na floresta de Miombo, em especial a Concessão Florestal Sotomane no distrito de Mocuba, nesse sentido, contribuir para o entendimento dos processos geradores da distribuição dos indivíduos e populações na comunidade.
Resumo
O presente trabalho foi realizado em uma área de Concessão Florestal sob gestão da Indústrias e Construções Sotomane Lda., localizada no Posto Administrativo de Namanjavira, Distrito de Mocuba, Província da Zambézia, com objectivo de avaliar a composição florística e padrão de distribuição espacial da regeneração natural em floresta de Miombo em dois ambientes. O primeiro ambiente denominado por floresta não perturbada e o segundo denominado por floresta perturbada por actividade de exploração madeireira.
Para a recolha de dados usou-se amostragem sistemática, por meio de uma grade amostral, composta por 15 unidades amostrais de 0,6 ha (20 x 20 m), onde todos os indivíduos em regeneração com DAP ≤ 10cm foram medidos e identificados. Os parâmetros florísticos e fitossociológicos avaliados foram densidade, dominância, frequência e índice de valor de importância (IVI). O processamento e análise de dados foram feitos com auxílio a planilha do MS Excel versão 2013TM .
A suficiência amostral foi obtida por meio de curvas de rarefacção (curva espécie x área). Foram registradas no ambiente I, 26 espécies distribuídas em 8 famílias, enquanto no ambiente II constatou-se a ocorrência de 33 espécies distribuídas em 11 famílias botânicas, respectivamente.
A Fabaceae foi a família botânica mais rica nos dois ambientes com um total de 14 e 16 espécies. As espécies Brachystegia spiciformis e Ficus ingens apresentaram maiores valores de IVI no Ambiente I. Em contrapartida, Ficus ingens e Julbernardia globiflora apresentaram maiores valores de IVI no Ambiente II. O índice de diversidade de Shannon-Weaver e índice de equabilidade de Pielou foram de 2,76 e 0,85 no ambiente I e 2,98 e 0,85 para o ambiente II, respectivamente.
O índice de Morisita revelou que nos dois ambientes 10 espécies (38%) e 18 espécies (55%) apresentaram distribuição agregada, 2 espécies (8%) e 2 (6%) espécies apresentaram distribuição aleatória, 11 espécies (42%) e 10 espécies (30%) apresentaram distribuição uniforme e 3 espécies (12%). No entanto, 3 espécies (9%) não foi possível observar o padrão de distribuição espacial devido a baixo número de indivíduos na área de estudo. Diante disso, o entendimento da dinâmica do processo da regeneração natural e o padrão de distribuição espacial, podem subsidiar estratégias de conservação, programas de restauração e o maneio das espécies arbóreas na floresta de Miombo.
Palavras-chave:
Diversidade de espécies; Regeneração natural; padrão de dispersão.
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