Introdução
Moçambique é um país com uma extensão de florestas estimadas em cerca de 34 milhões de hectares, representando cerca de 41% do território nacional. As florestas têm um papel importante na regulação do regime hídrico, fluxo de energia nos ecossistemas, bem como outros produtos e serviços que beneficiam o Homem (MITADER, 2018).
O processo de apropriação dos recursos naturais ao longo do caudal dos rios tem ocorrido muitas vezes em áreas inadequadas, desrespeitando as características físico-naturais e comprometendo o sistema ambiental existente. Esse comprometimento, afecta directamente a resiliência, a qual é definida como a capacidade de um sistema suportar perturbações ambientais, mantendo sua estrutura e padrão geral de comportamento enquanto sua condição de equilíbrio é modificada. Ou seja, a capacidade de um sistema de manter sua integridade no decorrer do tempo, sobretudo em relação às pressões externas (Folke, 2006).
O monitoramento da paisagem de uma região é factor primordial na planificação racional de utilização da terra em função da velocidade de ocupação do espaço físico. As técnicas de Geoprocessamento e Sensoreamento Remoto constituem hoje, um importante conjunto de ferramentas aplicáveis ao planeamento geográfico, tanto em níveis regionais quanto municipais (Catelani, 2003). As geotecnologias disponibilizam uma série de ferramentas que auxiliam a investigação da adequação do uso do solo em Áreas de Preservação Permanente (APPs) (Costa et al., 1996).
As APPs de corpos hídricos possuem uma vegetação específica, a chamada vegetação ripária, que são as matas de galerias e as matas ciliares. As matas ripárias seguram a vegetação das margens, mantêm a humidade e a fauna da região e funcionam como corredores de sustentabilidade, pois são responsáveis pela ciclagem de nutrientes que irão alimentar tanto o ecossistema terrestre quanto o ecossistema aquático de forma a assegurar a melhor qualidade das águas (Eugénio et al., 2017).
Assim sendo, o presente estudo visa avaliar a capacidade de resiliência natural em florestas ribeirinhas ao longo do Rio Luculece no distrito de Sanga no período de 2011 e 2021, através dos indicadores de declividade, temperatura, tipos do solo, e vegetação, associando-os às actividades desenvolvidas pela população, considerados como factores de pressão para o aumento ou diminuição da resiliência natural, e dessa forma analisar o grau de comprometimento do ambiente.
Problema e Justificativa
A degradação ambiental pelo uso e ocupação irregular do solo, ocasionado pelo crescimento populacional, juntamente com o processo de urbanização, tem provocado modificações ao meio ambiente, como a diminuição de áreas permeáveis, supressão da vegetação, assoreamento dos rios, entre outros impactos (Cemin et al., 2005). Segundo o mesmo autor, tal pressão exercida sobre os recursos hídricos, compromete o funcionamento hidrológico, resultando em problemas como as secas prolongadas, ou em outras localidades ocorrências de inundações.
Historicamente a população rural tem aplicado formas irresponsáveis de ocupação do território, aproveitando do potencial hídrico dessas áreas, explorando-as de forma extensiva através da agricultura e a pecuária, no entanto, para efectuar o desenvolvimento dessas actividades é adoptado como técnica o desmatamento, provocando processos erosivos do solo, redução das reservas de água do solo e consequentemente a diminuição da produtividade natural (Rebouças, 2006).
Em particular no distrito de Sanga no Posto Administrativo de Unango, a comunidade local tem exercido grande pressão na exploração dos recursos florestais, prática da agricultura, que tem sido exercida de forma migratória com enfoque nas áreas próximas aos rios devido a sua humidade, fertilidade do solo e fonte de água próximo para rega de hortas, como o caso das margens do Rio Luculece, que através da extração de estacas e material combustível para produção de carvão e lenha tornam vulnerável a resiliência do próprio ecossistema com a exposição do solo e superexploração dos recursos nas áreas de preservação permanente.
Por via destes cenários surge a seguinte questão: “Qual é a capacidade de resiliência natural de florestas ribeirinhas ao longo do rio Luculece no distrito de Sanga”?
Destaca-se que a comunidade científica tem dado muita atenção ao conceito de resiliência e ao seu método de interpretação, em decorrência dos problemas ambientais, direcionando para o contexto das interações sociedade-natureza. Torna-se, portanto, relevante sua aplicação no aspecto ambiental, tendo em vista a emergência do uso e maneio sustentável dos recursos naturais para a manutenção dos sistemas ambientais e, consequentemente, da sociedade. Assim, a resiliência é definida como a capacidade de um sistema absorver perturbações e se reorganizar em pleno funcionamento. Isto inclui não só a capacidade de um sistema em retornar ao estado existente antes das perturbações, mas também de se adaptar e recuperar das pressões sofridas (Folke, 2010; Mugume et al. 2015 citado por Oliveira, Teixeira & Steinke, 2023).
Espera-se que os resultados desse estudo possam ser de grande importância na conservação da biodiversidade visto que a comunidade é considerada dependente dos recursos florestais surge a necessidade de saber que as florestas ribeirinhas providenciam vários serviços económicos, sociais e principalmente ambientais. Isso vai ajudar na elaboração de propostas de planos de reabilitação, gestão dos recursos com vista a evitar a extinção da biodiversidade garantindo deste modo a conservação dos ecossistemas florestais no Posto Administrativo de Unango, irá também contribuir para o sucesso na recuperação de áreas perturbadas.
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido no Rio Luculece, distrito de Sanga, com o objectivo de avaliar a resiliência natural ao longo do rio. Utilizando o software Quantum GIS 3.14, foi gerado um Buffer de 30 metros para analisar classes de uso da terra, tipo de solo, vegetação, declividade, temperatura e recursos hídricos, culminando na determinação do Índice de Resiliência Natural (IRN).
Os resultados mostraram seis classes de uso e ocupação da terra na Área de Preservação Permanente (APP), com destaque para o aumento da vegetação em 29,52% e a redução de solos expostos em 31,26%. O relevo predominante foi suave ondulado, ocupando 53,80% da área, e foram identificados solos argilosos vermelhos e líticos. As temperaturas de 2011 e 2021 variaram entre máximas de 45°C e mínimas de 35,1°C e 30,1°C, respectivamente.
O Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) apontou uma redução de 9,95% (2,07 ha) na vegetação baixa e aumento equivalente de 9,95% (2,07 ha) na vegetação muito baixa. O Índice de Água por Diferença Normalizada (NDWI) mostrou um aumento de 5,3% nas áreas secas. O IRN revelou que 54,12% da APP possui resiliência moderada, 37,69% baixa e apenas 7,55% alta. Recomenda-se um maneio sustentável do solo para preservar sua capacidade de regeneração, mesmo com técnicas rudimentares.
Palavras-chave:
Ecossistemas ripários; Capacidade de recuperação ambiental; Uso de cobertura de terra.
Autor: Adelson Bucan
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