A população rural tem aplicado formas irresponsáveis de ocupação do território, aproveitando do potencial hídrico dessas áreas, explorando-as de forma extensiva através da agricultura e a pecuária, no entanto para efectuar o desenvolvimento dessas actividades é adoptado como técnica o desmatamento (Rebouças, 2006).
A cobertura vegetal exerce um papel fundamental na manutenção do ciclo da água, ao proteger o solo contra o impacto das gotas das chuvas. Além de aumentar a porosidade e a permeabilidade do solo, por meio da acção das raízes, ainda reduz o escoamento superficial e mantém sua humidade e fertilidade, pela presença de matéria orgânica (Beltrame, 1994). Contudo, Magalhães (2000) salienta que um dos grandes desafios do Homem para a conservação ambiental é concentrar esforços e recursos para a preservação e recuperação de áreas naturais das quais vários ecossistemas são dependentes.
A degradação ambiental pelo uso e ocupação irregular do solo, ocasionado pelo crescimento populacional, juntamente com o processo de urbanização, tem provocado modificações ao meio ambiente, como a diminuição de áreas permeáveis, supressão da vegetação, assoreamento dos rios, entre outros impactos (Vessoni, 2019).
Problema e Justificativa
As transformações de áreas nativas em áreas com influências antrópicas constituem um problema crescente em áreas húmidas e secas do mundo (McCray et al., 2005). O estabelecimento da agricultura, pecuária e a exploração de lenha e madeira são práticas frequentes no processo de antropização dos habitantes, práticas que de certa maneira induzem ou influenciam a escassez do bem explorado, redução da eficiência produtiva das terras e afecta a capacidade de resiliência dos habitats (Figueroa et al., 2006).
Segundo Vessoni, (2019), as pressões exercidas sobre os recursos hídricos, compromete o funcionamento hidrológico, resultando em problemas como as secas prolongadas, ou em outras localidades ocorrências de inundações.
O processo de apropriação dos recursos naturais nas bacias hidrográficas tem ocorrido muitas vezes em áreas inadequadas, desrespeitando as características físico-naturais e comprometendo o sistema ambiental existente (Oliveira, 2018).
A degradação do solo por meio de processos erosivos tem sido foco dentro dos estudos geográficos devido à intensa interferência da acção antrópica a partir de diferentes usos do solo visando retornos económicos, aos quais, na maioria das vezes, não se tem preocupação com o equilíbrio ambiental existente e favorece a intensificação de processos erosivos e, consequentemente, o escoamento superficial. Assim, é de fundamental importância que os estudos que tem como objectivo reverter e controlar tais processos erosivos se preocupem em conhecer a dinâmica erosiva, desde seus primórdios, ou seja, a partir do momento em que as gotas de chuva começam a bater nos solos (Guerra, 2012).
Luís (2017) afirma que ao longo do rio Licungo tem-se verificado uma maior vulnerabilidade à degradação, pois a utilização dos recursos florestais constitui a actividade principal de sobrevivência das famílias locais.
Tal observação foi verificada por Aguacheiro (2021) estudando o índice de resiliência natural em bacias hidrográficas onde observou que ao longo do rio Licungo predomina uma resiliência natural moderada como consequência da degradação.
Seybold et al. (1999), salientaram que, se o solo for frágil ou sofrer perturbação muito drástica, pode sofrer uma degradação irreversível. Em tais casos, excede a capacidade de resistência do solo, resultando em danos permanentes ou a necessidade de restauração.
Contudo, a degradação das florestas ribeirinhas ao longo do rio Licungo é influenciada principalmente pelo aumento da urbanização (30,5%), extracção de lenha e carvão (22,5%) e pelo aumento das práticas de agricultura itinerante (13,5%) (Luís, 2017).
Entretanto a inexistência da vegetação protectora ao longo das margens do rio Licungo esta associado aos impactos severos registados nas chuvas intensas de Janeiro 2015 que provocaram cheias que assolaram directamente a população da província da Zambézia, em que o impacto mais notável verificou-se nas famílias que habitavam as zonas ribeirinhas. Vários foram os danos, destacando-se os socioeconómicos e ambientais (Mavehe, 2018).
Diante do exposto acima, objectiva-se avaliar a eficiência da vegetação no controle do escoamento superficial para o período de 2013 à 2019, correlacionada a estudos morfométricos e caracterização física para a Bacia Hidrográfica do rio Licungo, associando-os às actividades desenvolvidas pela população, considerados como factores de pressão para o aumento ou diminuição do desenvolvimento da cadeia de processos erosivos devido à ocupação desordenada do solo.