Portanto, estima-se que de todas as árvores plantadas no mundo, o género Eucalyptus é responsável por 38%, sendo a Índia o país com maior área plantada, com 22% deste género e o mais plantado nos trópicos, (PÉREZ-CRUZADO et al., 2011 e EPRON et al., 2013 citados por (CARLOS 2018). Entretanto, as primeiras plantações no país iniciaram no século XIX com o plantio de árvores na então Lourenço Marques hoje Maputo, predominantemente com espécies do género Eucalyptus com o objectivo de secar os pântanos existentes na parte baixa da cidade, dados disponíveis indicam que entre 1907 e 1920 o jardim Tunduro foi enriquecido com essências exóticas e a partir de 1926 a cidade começou a ser arborizada de forma ordenada, nas ruas próximas a Estação dos Caminhos-de-ferro, com o plantio de Eucalyptus tereticornis, Eucalyptus rostata e Eucalyptus robusta (MA, 2006).
O Ministério da Agricultura acima citado diz que no período colonial foram estabelecidas cerca de 20.000 ha de plantações florestais com espécies exóticas, maioritariamente de Eucalyptus saligna, Eucalyptus grandis, Pinus patula e Casuarina equisetifolia; a maior parte destas plantações foram estabelecidas em Penhalonga, Rotanda e Sussundenga na província de Manica; Lichinga em Niassa; Alto-Molócue e Gurué na Zambézia; Angónia em Tete; Namaacha, Salamanga, Marracuene e Matola em Maputo; Barra do Limpopo e Bilene em Gaza; e Nhalue em Inhambane.
Porém, o mesmo ministério ainda afirma que os esforços empreendidos, entre a última metade da década 90 e a primeira metade da década (2000 - 2010), visando atrair o sector privado para o desenvolvimento do reflorestamento não surtiram o efeito desejado e desta forma com a interrupção dos programas de reflorestamento que eram levados a cabo pelo Estado através dos Projectos de Reflorestamento, a actividade de reflorestamento no país nos últimos anos resume-se a pequenas acções isoladas e de pouco impacto levados a cabo pelas Direcções Provinciais de Agricultura com os escassos recursos de que dispõem. Entretanto a partir de investimentos privados estrangeiros (Indústria Florestal de Manica, Green Resources, Ntacua Florestas e Portucel) foram desenvolvidos projectos de monoculturas de árvores nas várias províncias, os quais se encontram, actualmente, em diversos estágios de implementação (OVERBEEK, 2010).
A formação de povoamentos florestais com espécies de crescimento rápido, como as do género Eucalyptus, é estratégica para aumentar a oferta de madeira e outros produtos florestais, diminuindo a pressão sobre as florestas nativas, as espécies desse género crescem satisfatoriamente na diversidade de condições edafoclimáticas existentes em diferentes regiões do país e apresentam ampla plasticidade de uso da madeira (MARTINEZ et al., 2012).
Nesse contexto, ROMERO et al. (2003), afirmam que com a clonagem de eucaliptos pode-se notar a grande contribuição da evolução tecnológica para a silvicultura, hoje extensas áreas são tomadas pelo plantio de clones com grandes produtividades, qualidade desejada de madeira e alta estabilidade fenotípica na produção, para obter sucesso em plantações de eucaliptos além da escolha adequada da espécie também se faz necessário o conhecimento sobre factores geológicos e climáticos da região, pois estes, podem interferir directa ou indirectamente no desenvolvimento da planta e consequentemente na produtividade.
Vale ressaltar que as espécies, híbridos e clones de eucalipto apresentam diferenças entre si quanto à resposta aos estímulos ambientais de cada nicho ecológico, esses materiais para serem utilizados em uma região com sucesso, necessitam da realização de testes para avaliação da sua capacidade de adaptação e produção (FERREIRA et al., 2017).
Portanto, o processo de escolha de espécies de eucalipto potencialmente aptas para plantio sempre foi baseado, primeiramente, em critérios climáticos (BORGES, 2012). Embora o clima seja o definidor da ocorrência das espécies na sua região de origem, o solo também influência no crescimento dos materiais genéticos de eucalipto assim como a ocorrência de estiagem prolongada e de pragas e doenças também podem afectar a adequação das espécies em uma determinada região (DEL QUIQUI et al., 2001).
Diante do exposto, o presente trabalho objectiva avaliar a sobrevivência e o crescimento inicial de quatro (4) clones do género Eucalyptus com a finalidade de obter informações para a indicação de cultivo no distrito de Sussundenga, província de Manica.
Problema e Justificativa
Segundo o MA (2006), Moçambique tem cerca de 36 milhões de hectares de terras aráveis com potencial para produção de uma gama diversificada de cultura agrícolas, incluindo o desenvolvimento de plantações florestais, e nessa altura apenas 12 milhões dos 36 milhões estavam sendo usados para a produção de culturas agrícolas alimentares e de rendimento, satisfazendo cerca de 80% das necessidades do país e estima-se que para a satisfação em 100% das necessidades alimentares seriam necessários cerca de 15 milhões de hectares de terra, o que significa que ficariam ainda disponível cerca de 21 milhões de hectares para a produção de outras culturas para outros fins, incluindo o estabelecimento de plantações florestais para produção de madeira para o mercado local e a exportação.
O Ministério da Agricultura anteriormente citado diz que de acordo com os estudos levados a cabo para determinar as áreas com aptidão para o estabelecimento de plantações florestais com espécies florestais de rápido crescimento, foram identificados 7 milhões de hectares com potencial para o reflorestamento, nas províncias de Sofala, Manica, Zambézia, Nampula e Niassa. Moçambique esta a usar a bandeira de “terra disponível” e outros incentivos para atrair investimentos em plantações florestais (NHANTUMBO et al. 2013, citados por SITOE & LISBOA, 2017).
Portanto, a escolha do distrito de Sussundenga para o estudo, deveu-se pelo facto do distrito segundo o MAE (2014), ter um forte potencial florestal com uma cobertura vegetativa de espécies exóticas, destacando-se o Pinho e Eucalipto. O distrito serviu de atractivo para uma das grandes empresas de produção florestal do país (Portucel), que conta com uma área de 183000 ha na província de Manica, dos quais aproximadamente 20000 ha estão a ser implantados no distrito de Sussundenga com a produção de espécies ou clones do género Eucalyptus (BAFFONI, 2017).
E também vale ressaltar que devido as práticas de actividades socioeconómicas como agrícola e exploração de recursos florestais (carvão, estacas, madeira) anos após anos as áreas desflorestadas aumentam no distrito, o CDS-RN (Centro de Desenvolvimento Sustentável – Recursos Naturais) monitorando o desmatamento no distrito de Sussundenga entre 1998 e 2012 constatou que Sussundenga é um dos distritos onde se regista uma acelerada perda de florestas (NHANTUMBO & GUEDES, 2013).
Entretanto, surge o problema devido a indisponibilidade de florestas comerciais de alta produtividade, o que tem originado pesquisas que buscam materiais genéticos mais produtivos e adaptados às diferentes condições ambientais (VELLINI et al., 2008). Pois, dentre os avanços tecnológicos, o que mais contribuiu para a actual dinâmica da silvicultura, que assegurou a elevação da produtividade das florestas plantadas e o aumento de competitividade da indústria, foi o uso do melhoramento genético, visando à selecção de árvores com características florestais e industriais desejáveis, como vigor, forma, resistência a pragas e doenças, qualidade da madeira e aproveitamento industrial (IBÁ, 2014 citado por CUNHA, 2016).
MURO (2000), citado por CALDEIRA (2014), afirma que dentre as espécies de eucalipto, E. urophylla e E. grandis são as mais utilizadas em programas de hibridação controlada, que geram um genótipo comummente denominado de “urograndis”, o qual permite a união das boas características de ambas na geração segregante.
Um dos grandes problemas que têm se verificado ao longo dos anos na produção de espécies florestais e trabalhos científicos têm demonstrado que indivíduos de mesma espécie apresentam desenvolvimento e estado nutricional distintos quando avaliados em regiões ecológicas diferentes, assim como espécies diferentes de eucaliptos também podem reproduzir respostas bem variadas em um mesmo sítio florestal (COUTINHO et al., 2004). Portanto, essas variações são consequências das distinções climáticas e de solo das diversas regiões e da heterogeneidade dos materiais genéticos (SANTANA et al., 2002).
Contudo, para LATORRACA & ALBUQUERQUE (2000), a maioria dos problemas que ocorrem com a qualidade da madeira é oriunda de algumas características do lenho juvenil, devido a sua tendência em proporcionar contracções mais acentuadas, assim sendo, detalhes sobre o desenvolvimento da produção se tornam essencial ao produtor que deseja alcançar a rentabilidade desejada e através da correcção avaliativa dos factores internos e externos que influenciam o plantio, assim, haverá produtos de boa qualidade e com um bom retorno financeiro.
A sobrevivência, o estabelecimento, a frequência dos tractos culturais e o crescimento inicial das florestas são avaliações necessárias para o sucesso do empreendimento florestal (GOMES et al., 2002). Por isso, o crescimento produtivo voltado para escalas comerciais deve ser acompanhado, de forma a propiciar um conhecimento sobre os problemas decorrentes da plantação e o grau de produtividade que será gerado no futuro (ROMERO et al., 2003).
Segundo o referenciado, surge a necessidade de se avaliar o crescimento e a sobrevivência de diferentes clones a fim de se obter informações e dados suficientes para fornecer subsídios as grandes, médias empresas e pequenos produtores que pretendem produzir o Eucalipto em larga ou pequena escala no distrito de Sussundenga com a minimização dos custos e consequente maximização dos lucros em menos tempo, mantendo o conceito de uma produção e desenvolvimento sustentável, e também contribuindo para o reflorestamento de áreas degradadas.
Resumo
O trabalho foi realizado no distrito de Sussundenga, província de Manica, na estação florestal de Mandonge. Um povoamento de clones de espécies do género Eucalyptus com uma idade de 32 meses (aproximadamente 2.5 anos). Com objectivo principal de avaliar a sobrevivência e o crescimento inicial de quatro (4) clones do género Eucalyptus nomeadamente NGU 47, NGU 22, NGU 62 e 3335 (Clones provenientes de bancos de Matrizes) no distrito de Sussundenga, província de Manica.
Foi usada a amostragem aleatória simples (AAS), onde foram demarcadas nas parcelas permanentes 4 sub-parcelas em forma de grade para cada clone em 4 blocos, totalizando 64 sub-parcelas de igual tamanho com um formato rectangular e dimensões de 13.5 x 21 m que corresponde a uma área de 283.5 m2 . Com a mensuração das variáveis DAP, altura total e qualidade fitossanitária de 35 indivíduos em 16 sub-parcelas sorteadas.
Para todos os clones e características por avaliar, foi determinado o índice de sobrevivência, valores mínimos, médios, máximos e os coeficientes de variação para os parâmetros DAP e Altura total ao nível das parcelas e o estado fitossanitário através da determinação dos índices de ataque para cada classe de danos nas parcelas que correspondem cada clone com o auxílio do software MS Excel 2010 e SISVAR para verificar a diferença entre as médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Os resultados mostraram que os clones NGU 47 e NGU 62 apresentaram uma alta sobrevivência e melhor desempenho no crescimento apontando a excelente adaptação desses clones as condições ambientais da região onde foram inseridos, em relação aos clones NGU 22 e 3335. E todos os clones com excepção do clone 3335 apresentaram boa qualidade fitossanitária dos seus indivíduos e povoamentos.
Autor: Lavumó Charela