A fragmentação florestal é um processo caracterizado pela redução da vegetação original, dando origem em uma paisagem composta de tamanhos, formas e graus de isolamento diferenciados (Perreira et al., 2016). Porém, este processo acontece com maior intensidade e extensão em função da dinâmica de uso e ocupação da terra produzida pelo homem (Haddad et al., 2015).
De acordo com Viana (1990) e Louzada et al. (2010), os factores como a diminuição das áreas de vegetação natural e o grau de isolamento afectam as relações ecológicas entre as espécies, ocasionando um impacto negativo sobre o tamanho das populações. Segundo Perreira (2007), estas áreas isoladas denominam-se de fragmentos florestais, apresentando uma área de vegetação natural continua, separada ou desligada por barreiras que podem ser de origem natural (outras formações vegetais, montanhas, lagos, dentre outras) ou antrópicas (culturas agrícolas, estradas, pastagens, cidades, dentre outras).
Portanto, as barreiras causadas pela fragmentação diminui a dispersão dos organismos entre os remanescentes de vegetação resultando em mudanças na estrutura da comunidade, como a quebra na cadeia alimentar, modificação e/ou eliminação de relações ecológicas com outras espécies como polinizadores, perda de indivíduos reprodutivos de populações vegetais e animais, e também efeitos indirectos que são importantes sobre as espécies que restam nestes ambientes por meio de mudanças no microclima, entre outros efeitos de ordem física e biológica (Szmuchrowski & Martins, 2001).
Segundo os autores supracitados, o ambiente natural é o abrigo para diversas espécies nativas da região e, principalmente, aquelas migratórias. Entretanto, os corredores ecológicos (CE‟s) em termos de ecologia e conservação de populações apontam para a necessidade de sua preservação e restauração, reconectando diferentes ambientes e fragmentos florestais, minimizando assim o isolamento causado pela fragmentação, aumentando a cobertura vegetale garantindo a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade de ecossistemas considerados prioritários (Louzada et al., 2010).
Neste contexto, ressalta-se a capacidade dos corredores ecológicos de servirem de zona de transição para as espécies presentes no parque nacional do Gilé, o qual permitirá que os animais transitem com segurança de um fragmento florestal ao outro, além de fornecer adequadas condições ambientais para a reprodução e sobrevivência dos indivíduos, garantindo desta forma o fluxo génico entre estas populações e favorecendo que haja dispersão das sementes para a regeneração natural das florestas nativas (Lourenço et al., 2014; Melo et al., 2014; Oliveira et al., 2016).
A fim de permitir uma melhor avaliação espacial, Guirão et al. (2012), Silva (2014) e Sales et al. (2017), destacam o uso de técnicas de Geoprocessamento como uma ferramenta importantíssima para a análise espacial e, por conseguinte, fornecimento de informações para a tomada de decisão. Sendo que, esta técnica permite avaliar as propriedades mais favoráveis à formação de fragmentos, contribuindo significativamente na evolução das práticas ambientais e na criação de políticas públicas voltadas para a manutenção e recuperação da biodiversidade e gestão racional dos recursos naturais (Lindenmayer et al., 2008 e Oliveira et al., 2016).
Problema e Justificativa
As actividades agro-pecuárias, com destaque a agricultura itinerante, têm vindo a se expandir de forma acelerada nos últimos anos a nível mundial, com vista á aumentar a produção local, e assim contribuindo de forma significativa para o desflorestamento (Fernandes et al., 2015). Este cenário, deve-se á falta de consciência dos usuários dos recursos naturais no preparo do uso da terra no meio rural que tem suprimido grandes áreas de remanescentes que antes abrigavam espécies raras ou endémicas, tornando as paisagens fragmentadas e consequentemente o isolamento de habitats (Brito, 2012).
O PNAG não fica de fora deste cenário, pois Segundo Fusari et al. (2010), apesar de não haver população a residir dentro desta área de conservação é visível e esta cada vez mais acentuada a perda da vegetação devido o desenvolvimento dessa actividade, tornando-se uma ameaça para a conservação da biodiversidade do mesmo e da sua zona tampão. Sendo assim, como estratégia para incrementar a conectividade dos habitats no PNAG, têm-se o corredor ecológico que podem servir como elo de ligação dos fragmentos importantes, com vista á manutenção e recuperação da biodiversidade (Seoane et al., 2010; Umeda et al., 2015).
Conforme Perreira (2010), a conexão dos ecossistemas fragmentados, deve ser objecto de estudos amplos da paisagem, com a espacialização de áreas passíveis de serem conectadas e a verificação de trajectórias a partir das quais os corredores ecológicos poderiam ser implantados, garantindo a continuidade das actividades económicas em seu entorno imediato de maneira sustentável.
O uso de geotecnologias, torna-se imprescindível para trabalhos desta natureza, visto que essa ferramenta é muito utilizada para fazer o monitoramento de áreas extensas de forma sistemática, facilitando o entendimento da dinâmica das partes que compõe á paisagem (Castro e Watrin, 2013), sendo considerado um excelente instrumento para o planeamento e gestão ambiental (Corrêa, 2018; Coutinho, 2019).
A presente pesquisa objectivou estabelecer corredores ecológicos no PNAG, sendo está de grande relevância pois ajudará as entidades competentes na melhor gestão desta área de conservação, indicando as áreas passiveis de serem conectados, com vista a minimizar o impacto da fragmentação e aumentar o fluxo dos indivíduos dentro desta área. Assim como, também servirá de base para estudos científicos ligados a conservação da biodiversidade em ambientes fragmentados, pois até então existem poucos estudos desta natureza feitos a nível Nacional e Regional.
Resumo
A presente pesquisa objectivou estabelecer possíveis corredores ecológicos com o apoio das Geotecnologias no Parque Nacional do Gilé (PNAG), província da Zambézia. Com auxílio do Software Quantum GIS 3.10., fez-se a classificação supervisionada do uso e ocupação da terra (UOT) e cálculo de Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI), gerando-se o shapefile dos fragmentos, com cálculo do índice de circularidade (IC) analisou-se a paisagem e a seleccionou-se os fragmentos para a sua conexão, e com base na declividade e importância (APP`s) avaliou-se as áreas potenciais para a passagem dos corredores e por fim a selecção das melhores rotas com base nos custos.
A análise supervisionada permitiu determinar seis (6) classes de UOT, nomeadamente: vegetação Intermédia 186.651,64 ha (65,24%), vegetação baixa 94.613,27 ha (33,07%), solo exposto 2.803,78 ha (0,98%), afloramento rochoso 1.029,96 ha (0,36%), corpos de água 686,64 ha (0,24%) e agricultura 314,71 ha (0,11%). Os valores de NDVI variaram de –0,168339 até 0,549985, assim sendo não há vegetação densa dentro da área de estudo e os IC variaram de 0 a 0,13, que de acordo com estes os fragmentos do PNAG são alongados e são propensos a perturbações externas (efeito de borda). Foram registados seis (6) classes de relevo, desde plano ao escarpado, cobrindo em área: 27,01% (77.275,61 ha) relevo plano, 38,42 % (109.919,62 ha) relevo suavemente ondulado, 30,24% (85.498,56 ha) relevo ondulado, 4,04% (11.558,44 ha) relevo forte ondulado, 0,26% (743,86 ha) relevo montanhoso e 0,03% (88,13 ha) relevo escarpado.
Os dados dos custos, demonstram que apenas cerca 0,36% (1.029,96 ha) da área total da PNAG tem limitação para a passagem dos CE‟s. Assim sendo, o estabelecimento de corredores ecológicos, constituí uma ferramenta importantíssima para a desfragmentação e também uma excelente alternativa para a conexão de fragmentos insolados, maximizando o fluxo de animais de diferentes espécies.
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