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Determinação do Índice de Resiliência Natural em Bacias Hidrográficas (2014-2019) - Estudo de caso: Rio Licungo, Distrito de Mocuba, Zambézia (TCC, Mário Aguacheiro)


Moçambique é um país com uma extensão de florestas estimadas em cerca de 34 milhões de hectares, representando cerca de 41% do território nacional. As florestas têm um papel importante na regulação do regime hídrico, fluxo de energia nos ecossistemas, bem como outros produtos e serviços que beneficiam o Homem (MITADER, 2018).

No entanto, a população encontra-se num período de crise entre o crescimento e a degradação ambiental, verificando-se a cada dia a necessidade de uma reflexão sistemática sobre a influência da sociedade em detrimento do ambiente (Almeida et al., 2010). Segundo o mesmo autor, devido à situação nas diversas escalas, globais e locais, e a fim de mensurar a ausência de equilíbrio ecológico entre homem e meio ambiente, são necessários parâmetros ou indicadores que contemplam a discussão e avalia os índices de sustentabilidade.

Historicamente a população rural tem aplicado formas irresponsáveis de ocupação do território, aproveitando do potencial hídrico dessas áreas, explorando-as de forma extensiva através da agricultura e a pecuária, no entanto para efectuar o desenvolvimento dessas actividades é adoptado como técnica o desmatamento, provocando processos erosivos do solo, redução das reservas de água do solo e consequentemente a diminuição da produtividade natural (Rebouças, 2006).

As bacias hidrográficas compõem ecossistemas adequados para avaliação dos impactos causados pela actividade antrópica que podem acarretar riscos ao equilíbrio e à manutenção da quantidade e a qualidade da água, uma vez que estas variáveis são relacionadas com o uso do solo (Fernandes & Silva, 1994). Neste âmbito, um dos grandes desafios do Homem para a conservação ambiental é concentrar esforços e recursos para a preservação e recuperação de áreas naturais consideradas estratégicas, das quais vários ecossistemas são dependentes (Magalhães, 2000).

Entretanto, o monitoramento da paisagem de uma região é factor primordial no planeamento racional de utilização da terra em função da velocidade de ocupação do espaço físico. As técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto constituem hoje, um importante conjunto de ferramentas aplicáveis ao planeamento geográfico, tanto em níveis regionais quanto municipais (Castelani, 2003). As geotecnologias disponibilizam uma série de ferramentas que auxiliam a investigação da adequação do uso do solo em APPs (Costa et al., 1996; Aulicino et al., 2000).

Problema e Justificativa

A degradação ambiental pelo uso e ocupação irregular do solo, ocasionado pelo crescimento populacional, juntamente com o processo de urbanização, tem provocado modificações ao meio ambiente, como a diminuição de áreas permeáveis, supressão da vegetação, assoreamento dos rios, entre outros impactos (Vessoni, 2019). Segundo o mesmo autor, tal pressão exercida sobre os recursos hídricos, compromete o funcionamento hidrológico, resultando em problemas como as secas prolongadas, ou em outras localidades ocorrências de inundações.

O processo de apropriação dos recursos naturais nas bacias hidrográficas tem ocorrido muitas vezes em áreas inadequadas, desrespeitando as características físico-naturais e comprometendo o sistema ambiental existente (Oliveira, 2018). Esse comprometimento, acaba afectando directamente a resiliência (Folke, 2006). Portanto, a degradação das florestas ribeirinhas ao longo do rio Licungo é influenciada principalmente pelo aumento da urbanização (30,5%), extracção de lenha e carvão (22,5%) e pelo aumento das práticas de agricultura itinerante (13,5%) (Luís, 2017).

As bacias hidrográficas vêm sofrendo fortes pressões inerentes a demanda dos usos dos seus recursos naturais para o desenvolvimento socioeconómico, que muitas vezes vão além da capacidade de resiliência dos seus ecossistemas (Ioris et al., 2008; Almeida & Carvalho, 2010; Asefa et al., 2014; Oliveira & Silva, 2014; Tony et al., 2015; Godoy & Cruz, 2016). Entretanto, ao longo do rio Licungo tem-se verificado uma maior vulnerabilidade a degradação, pois a utilização dos recursos florestais constitui a actividade principal de sobrevivência das famílias locais (Luís, 2017).

Contudo, uma bacia hidrográfica, tomada como unidade de estudo, possibilita o entendimento adequado dos componentes naturais, uma vez que a obtenção de dados relativos a geologia, clima, relevo, hidrologia, uso da terra, entre outros faz com que seja possível caracterizar, classificar e diagnosticá-la, auxiliando na tomada de decisões do poder público e a sociedade civil (Moraes, 2001).

Destaca-se que a comunidade científica tem dado muita atenção ao conceito de resiliência e ao seu método de interpretação, em decorrência dos problemas ambientais, direccionando para o contexto das interacções sociedade-natureza (Klein et al., 2003; Adger et al., 2005; Folke, 2006; Cutter et al., 2008; Mugume et al., 2015).

Diante do exposto acima, objectiva-se avaliar a capacidade de resiliência natural do rio Licungo para o período de 2014 a 2019, através dos indicadores de declividade, temperatura, tipos do solo, e vegetação, associando-os às actividades desenvolvidas pela população, considerados como factores de pressão para o aumento ou diminuição da resiliência natural, e dessa forma analisar o grau de comprometimento do ambiente.

Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido no Rio Licungo no município de Mocuba. Objectivou-se neste estudo avaliar a capacidade de resiliência natural ao longo do rio Licungo. Com o auxílio de Software Quantum GIS 3.14 fez se a digitalização do leito do rio e gerou se um Buffer de 50 metros, onde foram analisadas as classes de uso e ocupação da terra com o apoio de chave de identificação, tipo de solo, vegetação, declividade, temperatura e recursos hídricos, que culminou com a determinação do Índice de Resiliência Natural.

Os resultados mostraram que a Área de Preservação Permanente do rio Licungo apresenta sete (7) classes de uso e ocupação (Habitação, Solos exposto, Infra-estruturas, agricultura, vegetação, afloramento rochoso e corpos de água), com maior destaque para vegetação que teve um aumento de 20,75 % e  a agricultura que teve uma redução de 22,88 %.

A declividade totalizou 86,46% da área para as classes (suave ondulado, ondulado e forte ondulado). Foram identificados 2 tipos de solos: argilosos vermelhos e vermelhos de textura média. O ano de 2019 teve a ocorrência de temperaturas altas, atingindo a máxima de 41,4 °C, e para 2014 a máxima foi de 36,9 °C.

O NDVI indicou uma redução de 18,28 % da vegetação densa e um aumento de 18,52% na classe de vegetação intermediária.  O NDWI indicou um aumento de 2,64 % das áreas com ausência de água e uma redução de 2,63 % das áreas com presença de água.  O IRN apresentou – se predominantemente moderado (85,28%), seguido da classe de resiliência baixa (7,39%) e alta com 6,14 ha (5,65%).

Entretanto que se adoptem técnicas sustentáveis de maneio do solo e da vegetação para favorecer a recuperação do ambiente a curto ou médio prazo, pois a capacidade de resiliência apresenta-se regressiva no decorrer do tempo, caso não seja aplicado um plano de gestão sustentável.



Autor: Mário Aguacheiro


Palavras-chave: Florestas Ribeirinhas; resiliência natural; rio licungo.



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